O gás natural é solução mais viável no curto prazo para a descarbonização da mobilidade, de acordo com Victor Cardial, delegado em Portugal da Associação Ibérica de Gás Natural e Renovável para a Mobilidade (GASNAM). “Permite um desenvolvimento de um sistema de combustíveis sustentáveis, renováveis e praticamente isentos de emissões a curto prazo, sendo a solução mais viável a curto prazo para a descarbonização e redução de poluentes na mobilidade”, refere, em entrevista à “Vida Económica”, aquele responsável pela GASNAM, que destaca as vantagens ambientais e económicas do uso daquele combustível em veículos ligeiros e pesados.
Vida Económica – O gás natural pode ser uma opção sustentável para os automóveis na Europa e em Portugal?
Victor Cardial – O gás natural existe em grande abundância na natureza mas também é possível obtê-lo a partir de fontes renováveis. Efetivamente, com base na digestão de resíduos, é possível obter biogás, que, depois de purificado, é designado como biometano, que tem a mesma composição e características do gás natural. O biometano já é largamente utilizado como combustível de veículos em diversos países europeus, existindo já uma experiência de demonstração em Portugal. O biometano, para além de renovável, não tem emissões de CO2. Assim, o gás natural permite um desenvolvimento de um sistema de combustíveis sustentáveis, renováveis e praticamente isentos de emissões a curto prazo, sendo a solução mais viável a curto prazo para a descarbonização e redução de poluentes na mobilidade.
VE – Quais as principais vantagens ambientais?
VC – O gás natural, para além de apresentar reduções de emissões de CO2 elativamente à gasolina e ao gasóleo, também emite uma percentagem significativamente menor de NOx (-70%) e de de partículas (-90%), que são o principal problema de poluição do ar das cidades.
VE – E em termos de custos de combustível e fiscais para empresas e particulares?
VC – Atualmente, os custos de utilização do gás natural são significativamente inferiores aos do gasóleo, sendo estimada uma poupança da ordem dos 20% a 30% no custo do combustível. No caso das empresas, existem ainda benefícios adicionais como a dedução de 120% dos custos com combustível em termos de IRC, a dedução de 50% do IVA nas viaturas ligeiras e a redução dos valores de tributação autónoma.
VE – Também para os operadores de transportes públicos de passageiros é opção…
VC – Como sabe, a utilização do gás natural no transporte público de passageiros tem vindo a ser a escolha maioritária na renovação das frotas dos diversos operadores como a Carris, os STCP, os TUB, os TCB, etc. Para quem percorre as cidades de Lisboa, do Porto, de Braga ou do Barreiro, torna-se evidente a escolha do gás natural como a solução de mobilidade urbana das empresas de transportes públicos de passageiros. Não, é pois, uma opção, mas sim uma escolha responsável do ponto de vista económico, ambiental e de sustentabilidade.
VE – Se os grandes operadores, como a STCP e a Carris, têm facilidade em ter estações próprias de abastecimentos, para os restantes operadores, assim como para os transportadores de mercadorias e para os utilizadores de automóveis ligeiros, é necessário haver uma rede de abastecimento de GNC/ GNL. Há planos de existência dessa rede em Portugal?
VC – A rede existente em Portugal já garante o abastecimento à maioria das utilizações de carácter profissional em todo o território nacional, existindo atualmente nove postos de abastecimento públicos, estando prevista a sua duplicação no próximo ano. O desenvolvimento da rede está com o ritmo adequado ao crescimento das necessidades e ao aumento da procura tanto por particulares como por empresas.
VE – Há rede em outros países da Europa?
VC – O centro da Europa dispõe de uma rede bastante densificada, sendo de destacar os casos da Itália (1304 postos de CNG e 55 de GNL), a Alemanha (844 e oito) e de Espanha (73 e 47). Em Espanha está prevista a abertura de muitos novos postos de abastecimento, esperando-se que alcancem os 250 nos próximo anos.
VE – Em Portugal, há vontade política para a existência dessa rede de abastecimento de GNC/GNL?
VC – Em Portugal as empresas de distribuição têm uma política de investimento consolidada com um crescimento sustentado dos postos. A expectativa é que a breve prazo todas as capitais de distrito disponham pelo menos de um posto de abastecimento de gás natural/gás renovável.
VE – E na Europa?
VC – As diretivas europeias são claras nesse sentido e nos países do centro da Europa e nos países nórdicos esta é uma opção cada vez mais escolhida pelas empresas e pelos particulares, em especial no que concerne ao gás renovável, com várias instalações de produção e distribuição de biometano para a mobilidade.
VE – O gás natural não deixa de ser um combustível fóssil e que não é isento de emissões. O gás natural sintético pode vir a ser essa opção?
VC – O gás de aterro, o biogás, purificado, dá origem a biometano que é compatível com o gás natural de forma a torná-lo neutro em termos de emissões de CO2. O gás sintético é obtido a partir de hidrogénio com adição de CO2 e que tem propriedades equivalentes ao biometano. Assim, o gás natural é o combustível que irá possibilitar essa transição de forma gradual e com custos de desenvolvimento de investimento do Estado, das empresas e dos particulares mais reduzidos.
VE – No transporte marítimo, o gás (sintético ou não) pode também ser uma solução?
VC – Atualmente, já é pacífico que o gás natural é a única solução viável para a redução de emissões no setor marítimo. A utilização de biometano e de gases sintéticos será cada vez mais implementada neste segmento quanto maior for a sua produção e o desenvolvimento de soluções integradas de economia circular nas diversas regiões e economias.
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